quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Nada será como antes

Ah, a superação! E, tudo aquilo que eu dizia, que parecia anos-luz distante da pseudorealidade que nos encontrávamos, aconteceu. O tempo, impiedosamente gracioso, atenuou as amarguras e consolidou os objetivos, nossos doces objetivos. E hoje, conseguimos rir e traçar projetos conjuntos, sem que cúmulos-nimbos relampeiem em nossa aura. E eu agradeço muito por isso.

Mas continuo sendo a maior fã de seus textos, mesmo quando sua maior inspiração era a dor que nos unia.


500 dias sem ela - uma reencenação


Bem que ela avisou. Assim que saímos da sessão de 500 Dias com Ela, na Mostra passada, fez apenas uma observação sobre a minha falta de empolgação com o filme:

- Espera eu te abandonar um dia, igual a menina fez. Daí será o filme da sua vida.

Pois dito e feito. Quase 365 dias depois, o personagem Tom Hansem passou a ser uma encarnação do meu cotidiano atual. Ou vice-versa. Tenho até um pouco de medo de encarar o DVD novamente, pode me soar familiar demais. A reencenação daquilo tudo na minha vida real já dói o suficiente.

O teto do meu quarto virou uma tela de cinema, onde as cenas do meu romance fracassado revezam exibições com clipes de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, Closer, Antes do Pôr-do-Sol…

Mas o que não para de rodar é mesmo o tal do 500 Dias com Ela. Eu já nem sei mais dizer onde eu termino e o  Tom entra em cena. Especialmente no trecho em que seus amigos (ou seriam os MEUS amigos?) dizem:

- Você tem de superá-la.

E eu (ou Tom?) responde:

- Eu não quero superá-la. Eu quero ganhar ela de volta.

Como eu pude ser tão insensível a ponto de não me comover com uma fala dessas no cinema? Acho que tudo isso deve ter sido alguma espécie de maldição dos deuses da sétima arte.

Lembro do final do filme, quando Tom encontra uma nova garota, e nós da plateia pensamos “oh-oh, vai começar tudo de novo…”. Os mais otimistas acham que nessa próxima aventura finalmente o herói encontrará sua musa definitiva. Mas pensar em outra é algo muito distante para quem ainda está na fase do “quero ganhar ela de volta”.

Seja como for, a Mostra está aí novamente, para mostrar que a vida segue seu caminho, para o futuro e de forma cíclica. Quem sabe numa dessas voltas o destino não a jogue no meu colo novamente?

Até lá, o cinema particular do teto do meu quarto só passa filme repetido.

 

Exatamente


“I won’t let you close enough to hurt me
I won’t ask you, you to just desert me
I can’t give you what you think you’re giving me
It’s time to say goodbye to turning tables”


Qual é o papel que me cabe agora? Nesse roteiro escrito a quatro mãos cujo final foi um fade out abrupto, daqueles de deixar o público se perguntando: “é só isso”?

Agora que você escreve suas histórias com outras companhias, passeia por outros cenários, enquanto eu sigo nesse bloqueio criativo que me deixa sem ar?

E não há espaço para mim, eu sei, não algum que eu queira preencher. O destino será caçar traços seus em outros rostos, suas palavras em outras vozes, ou então procurar exatamente o oposto do que você era, e assim apenas provar que não, ainda não te esqueci.

O passado acabou, o presente é opaco e o futuro parece longe demais.

 

De dentro da solitária


Pelas grades, vejo o sol se pondo.

Mais um dia sóbrio. Lá se vai uma semana desde o dia em que fui obrigado a me despedir do meu vício, desde que minha vida passou a ser uma incessante e intensa crise de abstinência.

Não que alguém se importe.

Penso em começar a fumar, não para aliviar a tensão, mas só para ter uma companhia. Não adianta, seria apenas mais uma decisão errada. Mais uma das muitas que me colocaram nessa cela.

Ainda há fios de cabelo dela pelo chão.

O cobertor extra que eu tinha acabado de comprar para o caso dela vir me visitar nunca foi estreado. E nem adianta tentar usá-lo para me cobrir. O frio não passa.

Tento acreditar nas suas justificativas, mas não consigo. E mesmo se fossem verdades, então seria simplesmente estupidez realmente achar que é melhor ter duas vidas vazias e despedaçadas ao invés de uma em comum que, de alguma forma, se completava.

Mas eu aprendi a lição. E esse crime eu não cometo mais.


...


E eu estarei sempre por perto.
Mesmo que os buracos-negros da vida dilacerem nosso elo.

Eu te desejo todo o sucesso o mundo!





Estréia Sexta, 12/08 as 24h, no Reserva Cultural.
 

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