terça-feira, 30 de agosto de 2011

Querido John

A vida quase sempre nos dá exatamente aquilo que a gente pede.
Eu lembro de me pegar assistindo àquele filme, e sempre me questionar:

- Por que será que eu nunca conheci um cara assim?

E então, um dia ele apareceu.

Lembro perfeitamente do momento que nossos olhares convergiram. Lembro dele chegando de mansinho, quase como se quisesse se aquecer. Uma noite estrelada, linda, fria. Um lugar tresloucado. Ele era enorme, e tinha uns olhinhos marejados que pouco combinavam com todo aquele porte. Era como se ali dentro coexistissem um gigante e um beija-flor. Um super-herói  e uma criança. Um menino e seu brinquedo.

Um menino. Ou o brinquedo. Não sei qual deles foi o responsável por incender a chama que se alastrou naquela cela. Cela onde há anos estavam trancafiados os momentos, os segredos, as amarguras. As emoções.  As desilusões. Foi como um lampejo de esperança que repentinamente consumiu toda aquela dor. Naquelas trevas agora ardia o fogo mais incontrolável que existe. E também o mais avassalador.

Perdi o chão, a noção, a razão. As pedras por testemunhas, o sol por progenitor. Era aquilo, era tão óbvio, pareceu que cada situação que eu já tinha vivenciado me preparou para aquele momento. Lembro do deslumbre despontando naquele vale, a luz dourada tangendo minha face, o cheiro entorpecente daqueles cachos cor-de-mel...

Cachos que que me faziam voar quilômetros e quilômetros. Era totalmente incontrolável. Como uma fissura. Meu vício. E de repente, contrariando todas as minhas pseudo-regras incorrigiveis, ignorando todo e qualquer resquício de experiência, de lisura, de rancor, alí me encontrava, despida de toda e qualquer racionalidade. Nua. Prostrada aos pés da efemeridade. Rendida. Incondicional.



Querido John,


Eu nunca tive coragem de perguntar os porquês
Mas doeu
Doeu muito mais do que saber
No fundo eu sei, e me arrependo por cada segundo mal resolvido
Por cada atitude desvairada
Por cada auto-ilusão impostada

Mas eu queria dizer que, de um jeito alienado, eu amei
Que eu amei cada "viagem"
Que eu amei cada sorriso
Que eu amei cada deslize

Que eu te amei em cada segundo.

...

Que tudo o que eu queria agora é conseguir dissipar essa "brisa" que ficou em mim.





E quem sabe, nesse deserto de almas, encontrar outro espirito livre.

Para tentar não mais errar.




"Just like a star across my sky
Just like an angel off the page
You have appeared to my life
Feel like I'll never be the same
Just like a song in my heart
Just like oil on my hands

Honor to love you"








terça-feira, 23 de agosto de 2011

Amor por conveniência (ou a valsa dos amores desencontrados)

Elas dizem que eles não querem nada sério. Eles dizem que não conseguem encontrar ninguém legal. De uns tempos para cá ando percebendo que micaretagem perdeu um pouco seu papel social. Se, por um lado, é um excelente momento para conhecer o maior número de prospects possível, por outro lado os relacionamentos criados nestas situações são rasos e parecem ter um curto prazo para expirar.

E essa percepção surge de ambos os lados. Tanto que dificilmente alguém cai na noite visando encontrar o amor de sua vida. No máximo alguém para apaziguar instantâneamente o vazio. Sim, aquela sensação de incompletude que todos carregam mas não assumem. Todos querem ser amados. Mesmo que seja por algumas horas. Mesmo que por somente alguns minutos, na esperança que a dor diminua.

Sim, ela ameniza. Mas não sara.

E dá-lhe intermináveis domingos (ou sábado, ou tantas feiras) gélidos e cinzentos, com parcas tentativas de aliviar a solidão. Sofá, TV, cinema, parque, shopping, praia. São muitas as oportunidades para desviar a atenção.Oportunidades que fazem você esquecer as perguntas, mas dificilmente lhe dão as respostas.

E ai a semana recomeça, cíclica, previsível. E você continua na balada, e continua se perguntando "onde estão as pessoas que querem amar nessa cidade?"

...

Eu digo que TODAS as pessoas querem amar. E todas elas estão a procura de um amor. Têm as que já o encontraram, tem as que estão cuidando do próprio jardim. Tem aquelas que dizem querer focar na carreira, tem as que dizem que acabaram de terminar de um relacionamento complicado. Mas TODAS, todas elas querem o conforto de ter alguém para dividir a vida. Em qualquer momento que esta a vida esteja. O que acontece é que, geralmente, essas pessoas não se encontram.

"O grande baile da vida". Máscaras, julgamentos, preconceitos, idealizações. Pressa. Todos os dias, a todo o tempo, esbarramos no amor. Mas a maior parte deste amor está destinada a outros indivíduos, que também estão no baile, e jamais se encontram. Ou dispensam esse amor, na esperança de se deparar com um "amor melhor". Como se o amor tivesse escala. Eu conheço pelo menos uma dúzia de homens interessantíssimos que estão a procura de um relacionamento sério. E tantas duzias de mulheres. Mas estes seres ou não se bastam, ou não se encontram. Nunca.

Mas e ai? estamos todos fadados a viver sem amor, ou amar quem não nos ama, numa infinita quadrilha Drummondesca?

Seria tão bom se as pessoas abaixassem suas guardas, e passassem a enxergar melhor o outro sem as barreiras que as máscaras impõem. E se entregassem. Mesmo que seja por um "amor pior". O fator "paixão" é importantíssimo, mas você já contou quantas vezes se apaixonou sozinho? E se você desse a chance para essa "paixão" acontecer com o tempo? Com a convivência? Com a companhia?


Pare de reclamar e começe a jogar amor em tudo a sua volta. Ame, mas não como se esperasse ser amado em troca. Ame, e permita-se dar a chance para aquele relacionamento menor que você certamente tem em sua órbita. Aceite o pouco que o outro tem a lhe oferecer. Se vocês tem os mesmos objetivos, porquê não tentar? Só a conveniência da companhia nas situações melancólicas já vai valer a tentativa.


E, quem sabe, esse pode ser o tal "grande amor da sua vida"?






Ele não pediu para que eu pulasse. Disse que estava lá embaixo, escalando, para sentar de mão dadas comigo na beirada do abismo.

E depois a gente decidiria se valeria a pena pular. Ou não.










 
 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Escaras

- Para você é muito simples: você se atira sem tem a menor noção do que te espera lá embaixo.

- Mentira! Eu não queria ter me jogado dessa vez. Aliás, acho nunca relutei tanto em aceitar que eu teria que descer. 

- Ah vá. Não vem não, primeiro você se jogou e depois ficou procurando alguma coisa para se agarrar no caminho porque percebeu que estava indo fundo demais. Você sempre pula, sem nunca inspecionar a área.

- Sim, e na maioria das vezes eu me estrepo.

- Sim, e na maioria das vezes você também sobe muito rápido. Tipo, você já sabe o caminho, conheçe as pedras que estão relativamente fixas, e em muito pouco tempo esta lá, pronta para cair de novo. Você gosta disso.

- Não, eu não gosto não. Eu não sei porque as pessoas tem mania de achar que eu gosto disso. Só eu sei o quanto me machuco. As feridas nunca cicatrizam.

- Tudo bem. Mas é muito melhor ter essas feridas do que nunca ter saltado.

...



- Pode ser. Mas não pense que é fácil lidar com a dor de não saber quantos pulos ainda me restam...



quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Nada será como antes

Ah, a superação! E, tudo aquilo que eu dizia, que parecia anos-luz distante da pseudorealidade que nos encontrávamos, aconteceu. O tempo, impiedosamente gracioso, atenuou as amarguras e consolidou os objetivos, nossos doces objetivos. E hoje, conseguimos rir e traçar projetos conjuntos, sem que cúmulos-nimbos relampeiem em nossa aura. E eu agradeço muito por isso.

Mas continuo sendo a maior fã de seus textos, mesmo quando sua maior inspiração era a dor que nos unia.


500 dias sem ela - uma reencenação


Bem que ela avisou. Assim que saímos da sessão de 500 Dias com Ela, na Mostra passada, fez apenas uma observação sobre a minha falta de empolgação com o filme:

- Espera eu te abandonar um dia, igual a menina fez. Daí será o filme da sua vida.

Pois dito e feito. Quase 365 dias depois, o personagem Tom Hansem passou a ser uma encarnação do meu cotidiano atual. Ou vice-versa. Tenho até um pouco de medo de encarar o DVD novamente, pode me soar familiar demais. A reencenação daquilo tudo na minha vida real já dói o suficiente.

O teto do meu quarto virou uma tela de cinema, onde as cenas do meu romance fracassado revezam exibições com clipes de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, Closer, Antes do Pôr-do-Sol…

Mas o que não para de rodar é mesmo o tal do 500 Dias com Ela. Eu já nem sei mais dizer onde eu termino e o  Tom entra em cena. Especialmente no trecho em que seus amigos (ou seriam os MEUS amigos?) dizem:

- Você tem de superá-la.

E eu (ou Tom?) responde:

- Eu não quero superá-la. Eu quero ganhar ela de volta.

Como eu pude ser tão insensível a ponto de não me comover com uma fala dessas no cinema? Acho que tudo isso deve ter sido alguma espécie de maldição dos deuses da sétima arte.

Lembro do final do filme, quando Tom encontra uma nova garota, e nós da plateia pensamos “oh-oh, vai começar tudo de novo…”. Os mais otimistas acham que nessa próxima aventura finalmente o herói encontrará sua musa definitiva. Mas pensar em outra é algo muito distante para quem ainda está na fase do “quero ganhar ela de volta”.

Seja como for, a Mostra está aí novamente, para mostrar que a vida segue seu caminho, para o futuro e de forma cíclica. Quem sabe numa dessas voltas o destino não a jogue no meu colo novamente?

Até lá, o cinema particular do teto do meu quarto só passa filme repetido.

 

Exatamente


“I won’t let you close enough to hurt me
I won’t ask you, you to just desert me
I can’t give you what you think you’re giving me
It’s time to say goodbye to turning tables”


Qual é o papel que me cabe agora? Nesse roteiro escrito a quatro mãos cujo final foi um fade out abrupto, daqueles de deixar o público se perguntando: “é só isso”?

Agora que você escreve suas histórias com outras companhias, passeia por outros cenários, enquanto eu sigo nesse bloqueio criativo que me deixa sem ar?

E não há espaço para mim, eu sei, não algum que eu queira preencher. O destino será caçar traços seus em outros rostos, suas palavras em outras vozes, ou então procurar exatamente o oposto do que você era, e assim apenas provar que não, ainda não te esqueci.

O passado acabou, o presente é opaco e o futuro parece longe demais.

 

De dentro da solitária


Pelas grades, vejo o sol se pondo.

Mais um dia sóbrio. Lá se vai uma semana desde o dia em que fui obrigado a me despedir do meu vício, desde que minha vida passou a ser uma incessante e intensa crise de abstinência.

Não que alguém se importe.

Penso em começar a fumar, não para aliviar a tensão, mas só para ter uma companhia. Não adianta, seria apenas mais uma decisão errada. Mais uma das muitas que me colocaram nessa cela.

Ainda há fios de cabelo dela pelo chão.

O cobertor extra que eu tinha acabado de comprar para o caso dela vir me visitar nunca foi estreado. E nem adianta tentar usá-lo para me cobrir. O frio não passa.

Tento acreditar nas suas justificativas, mas não consigo. E mesmo se fossem verdades, então seria simplesmente estupidez realmente achar que é melhor ter duas vidas vazias e despedaçadas ao invés de uma em comum que, de alguma forma, se completava.

Mas eu aprendi a lição. E esse crime eu não cometo mais.


...


E eu estarei sempre por perto.
Mesmo que os buracos-negros da vida dilacerem nosso elo.

Eu te desejo todo o sucesso o mundo!





Estréia Sexta, 12/08 as 24h, no Reserva Cultural.