segunda-feira, 7 de novembro de 2011

"A caixa dos segredos entalhados" e o "manual de como viver no amanhã"

Dias atrás retornei à casa de minha mãe para finalmente levar aqueles que seriam os últimos resquícios de minha passagem por aquele lar. Livros, papéis, fotos, brinquedos, encravados em uma estante de um porão que eu quase nunca visitei. Livros que eu nunca li. De todos os presentes que recebi, de todas as faculdades que frequentei, de todos os filmes que assisti. Fotos que "revelavam" um passado aparentemente feliz. Familia, conquistas, festinhas, viagens. Pessoas que foram, pessoas que chegaram, as que ainda estão por aqui e as que retornaram, muitas graças a existência desta "realidade virtual" que aparendi conviver. Sentada no chão, em meio àquele revirado de lembranças impressas, deparei-me com uma caixa.

"A Caixa". É engraçado que todo mundo possui um exemplar da bendita, mas ninguém fala a respeito. É o lugar mais secreto e profundo que uma pessoa possui fora do corpo. É ali que está guardado tudo o que já foi (ou será) importante em sua existência. Cartas de amores passados, tikets de viagens, guardanapos com corações, cartões de aniversário, mapas e itinerários, documentos vencidos, discursos para a cerimônia de entrega do oscar, sapatinhos de recém-nascidos, fotos e fotos e fotos... lembranças daquilo que aconteceu (ou queríamos que acontecesse) que, de alguma forma, pretendemos guardar para a posteridade. Como um troféu. Ou como um atalho...

Revirando a tal caixa encontrei um manuscrito, quase como um "plano de voo", elaborado exatamente há13 anos atrás. Colégio (o tal "ensino médio") concluído, jornalismo excluído (como assim você não vai fazer faculdade?Ah, Lila querida, por que diabos eu não te ouvi mesmo?), brilhante idéia de perseguir o sonho que me atormenta desde que eu me conheço por gente. Primeira aula de teatro: Elaborem um documento que contenha elementos de quem você é e o que você pretende para o futuro.

Futuro... palavra engraçada. O futuro aos 18 anos é uma página completamente em branco. Que eu redigi, com toda a fé e esperança que acompanha a idade. DRT aos 21, cinema aos 23, casada aos 25. Filhos? Só quando eu for velha, com 28 e olhe lá!!! Vida cronometrada, felicidade encomendada. Guardei a lição-de-casa e fui viver a vida que Deus me deu...

Hoje sou incapaz de precisar em que ponto o roteiro desandou. Ou mesmo os motivos que fizeram o certo não dar certo. Pensando bem, acho que ninguém nos prepara para o que realmente o futuro nos reserva. Acho que deveriam distribuir, ainda na mais tenra idade, um manual de "Como viver o amanhã". Manual que certamente deveria ser composto por capítulos como: "como não sucumbir as adversidades", "sabendo ouvir não", "aceitando a sociedade como ela é", "príncipes encantados não existem", "nada cai do céu", "você tem que trabalhar muito para conseguir o que deseja", "idéias malucas as vezes compensam","amigos são a família que lhe dará suporte na vida", "não tenha medo de arriscar", "o tempo passa muito rápido", "fazendo sua felicidade depender apenas de você" e, finalmente, mas não menos importante, "aconteça o que acontecer, nunca desista dos seus sonhos". Porque os sonhos sempre te perseguirão. E o sentimento de fracasso, acoplado à revolta de "não dar mais tempo", também.

Hoje eu penso no futuro de uma maneira presente. Não faço mais planos. E tento viver cada dia como se fosse o último. Aceitei que o amanhã é inalcançável, sempre dependerá do "hoje" para acontecer. Como qualquer pessoa, não teria dúvidas de encarar uma "máquina do tempo" para corrigir minha proa. Mas aceito e me orgulho de tudo o que conquistei. Por mais que estas conquistas nunca estivessem previstas no "plano de vôo"

A caixa agora possui outro endereço. Mas sei que os segredos ali contidos nunca sairão do meu coração.






Pensando como uma aviadora, talvez o vento de través derivou minha rota e no momento estou meio que desorientada. Talvez saiba o nível, a velocidade e até que estou rumo aos 3.0. Mas não faço idéia de que ponto estou nesta "carta da vida".

Mas isso é assunto para o próximo post...


"O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens..."
                
                                             (Renato russo)