segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Melancolia

Domingo. Calada da noite
Mãos turvas dos fracassos de acender pipe com cabo de incenso
Aceso.
"Lua"
Essência de rum

Lua.
Penumbra em cinquenta tons de cinza
janela meioqueaberta. Sombras cintilando teu torço
ADÔNIS
Que eu deliciosamente supliquei ao universo
loving you forever 

...

Insone.
A lua. Nova
Noiva?
I just can´t see
Tudo a tona. Nenhum sentido

Amor, casa, vida
O tempo
Let´s stay together
Prestação.
Depois
Mas e o depois?

...

Loving you wheather, wheather times are good or bad, and I'm happy or sad






Why?

E a boa filha à casa torna

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Procrastinação inabalável...

É difícil entender porque simplesmente paramos de escrever... Não é por falta de tempo, nem de vontade, nem de acontecimentos, que aliás andam agitando bastante o meu sofá nos últimos tempos...

Confesso que as vezes eu entro aqui, leio, releio, penso, começo e paro. Parece que me falta o "estopim", uma faísca de energia criativa para acender o tal pavio.

Pode ser que falta coragem também. Ou sentimento. Sinto que continuo batendo na velha tecla do "não há beleza na completude", mais ou menos como se agora,  desfrutando de um estado emocional tranquilo e equilibrado, não hajam janelas para a criatividade. Não hajam assuntos para serem retratados, não hajam pingos para os "i"s.

Como se o mundo tivesse dado uma pausa para eu aproveitar um pouquinho da abominável mediocridade do ser, bem ao modo suburbano "prestação de condomínio" assalariado...

E o pior é faz todo o sentido, mesmo não fazendo algum...

Coisa de gente cuja vida resolveu sair de férias...

...




terça-feira, 15 de maio de 2012

Era uma vez...

Eu estava naquela fase sábado a noite caiofernandodeabreulística. Tinha à muito passado do ponto de esperar alguma coisa e, como no luto, já estava a anos-luz da aceitação da minha pseudo-futura-infeliz realidade. E era aquilo, sem amarguras ou ressentimentos, bora parar de depender do que não depende da gente e começar a caçar a felicidade em onças, garoupas, e, porque não,  Benjamins Franklins da vida. Foi então que, absolutamente do nada vi sua foto pela primeira vez.

PUNCH!. Senti "o" estalo. Imediatamente remeti aquele trecho que tinha acabado de absorver de Morangos Mofados: "Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra". Alívio. Sem pormenores. Sem conjugações. Sem futuro do pretérito. Era ele, assim, do jeitinho que talvez um dia eu tinha pedido. Era perfeito e especial para a única pessoa no mundo me importava naquele momento.Eu mesma.

E foi num arroubo de sentimentos inconsequentes que anexamos nossos destinos e enviamos para o futureme.org  Ele se mudou, a gente se mudou e hoje está tudo tão mudado que é exatamente como se sempre tivesse sido assim. Ele me mostrou que sim, ainda existe amor em SP (e no Paraná, e na Argentina, e no Paraguai, e em São Thomé das letras...) Me segurou quando eu me joguei e me ajudou a perceber que a vida é bem mais simples quando é dividida (e como é difícil dividir...). Com ele entendi o que é realmente SER comprometida, "amar e ser amada" no sentido mais literal da expressão. Com ele, descobri que o tal "amor incondicional" existe sim, e ele é grande, tão grande que pulveriza até o menor resquício de egoísmo egocentrista. 

Ele me ensinou mais sobre o universo masculino do que o Greg Behrendt. Me ajudou a entender que são as similaridades, não as diferenças, que alimentam uma relação. Que a convivência diária pode ser extenuante e que a amizade e a cumplicidade são os elos mais fortes da corrente da vida. Que nesses tempos selvagens, nada mantém duas pessoas tão unidas a não ser o amor. Que o carinho pode ser despretensioso. Que um sorriso colore qualquer dia cinza. Que ser feliz é fácil, ridiculamente fácil...

E, acima de tudo, que o "felizes para sempre" é aqui e agora.


Hoje ele completa mais um ano de vida. O que não significa muito, já que ele me provou que a maturidade está muito mais relacionada com os objetivos de vida do que com as primaveras completadas. Hoje, mais do que nunca, eu quero agradecer. Agradecer, mas não por ele ter sobrevivido mais um ano. Quero agradecer por eu poder continuar com meus planos loucos, com minhas manias absurdas, com minhas idéias inconsequentes. Agradecer por eu não precisar mudar nenhuma virgula. Agradecer porque encontrei alguém que só soma, que se encaixa, que divide, que espera, que se lembra, que se importa. "Apesar" de quem eu sou.


Feliz aniversário minha vida. Esse é o primeiro de muitos, de todos. 


Á ti, o mundo!



TE AMO MUITO

Impreterivelmente.








"You're a falling star, you're the get away car
You're the line in the sand when I go too far
You're the swimming pool on an August day
And you're the perfect thing to say

And you play it coy, but it's kind cute

Ah, when you smile at me you know exactly what you do
Baby, don't pretend that you don't know it's true
Cause you can see it when I look at you

And in this crazy life, and through these crazy times
It's you, it's you, you make me sing
You're every line, you're every word, you're everything
You're a carousel, you're a wishing well
And you light me up, when you ring my bell
You're a mystery, you're from outerspace
You're every minute of my everyday

And I can't believe, uh that I'm your girl
And I get to kiss you baby just because I can
Whatever comes our way, ah we'll see it through
And you know that's what our love can do

And in this crazy life and through these crazy times
It's you, it's you, you make me sing
You're every line, you're every word, you're everything
You're every song, and I sing along
Cause you're my everything"


domingo, 4 de março de 2012

go... go fly away honey bee \o/

Eu me lembro quando a conversa da world trip surgiu. Foi naquele bar amarelo, onde quase todo mundo ia afogar as mágoas da rotina estafante provindas da labuta diária. Era uma noite meio fria, meio chuvosa, no meio da semana. Me lembro de estar desesperada por estar envolvida em um triângulo insolúvel, implorando para que ela acendesse uma luz sobre todo aquele emaranhado de possibilidades que poderiam determinar todo o meu futuro. No meio desse blábláblá lamacento interminável, eis que a dita cuja, do alto de seus 21 aninhos, me vem com essa:

- Mas você não precisa de um homem para ter isso. Você pode fazer tudo isso sozinha!

Anh? Tá louca? Como assim eu não preciso? Como assim tudo isso sozinha?  Eu, que lembrava vagamente de um período de um ano de solterice, lá em meados dos anos noventa, não entendi. Como assim?

- É assim (fazendo três bonequinhos com palitos, que por sinal já estavam espalhados por sobre a mesa): Esta é a Luana! Este é fulano e este é o siclano. E, simulando uma animação de pessoas palito, daquelas mais toscas possível (que btw, depois de quarta virei especialista), discorreu uma narrativa repleta de violência que culminava em dois chutes e uma bonequinha saltitante que dizia: Eu vou fazer isso sozinha.

Sim, ok, mas vou fazer o quê? O quê eu realmente queria da minha vida? Por que, até aquele ponto nada tinha dado muito certo. Eu só sabia que precisava sumir. E quem sabe encontrar algo. Tínhamos acabado de retornar do Peru (ou da Argentina, não me lembro) e naquele momento eu só tinha uma coisa em mente: VIAJAR.

Viajar.. pois é, tá ai! É tão simples, tão óbvio! Vou viajar! E não podia ser uma viagem bate-e-volta daquelas que a gente volta mais cansado e frustrado do que quando foi. Tinha que ser só de ida. Tinha que ser meu projeto de vida. Naquele momento, o nosso projeto de vida.

Depois daquela noite eu desenvolvi uma fantástica habilidade de desfrutar insanamente da minha própria companhia. E foram muitas quartas-mais-que-felizes, com direito a exploração de lugares inóspitos e interação com figuras bizarras. Em paralelo, eu e ela fazíamos planos que incluíam de patrocínio oriundo de algum super contato televisivo até uma possível inserção de nossos nomes no Guinnes Book. Em meu aniversário, ganhei um "super kit" que incluía um mapa mundi (daqueles de verdade, para ir fazendo check's), um livro sobre todos os países do mundo, diários de bordo e caderneta de contatos.

O tempo passou, e, quando a data da tal viagem ficou iminente, algo sucumbiu com minha imensa ânsia em me lançar ao mundo. Na verdade, descobri que o que eu precisava encontrar estava dentro de mim mesma. E assim ela seguiu, sozinha, concretizando e incrementando as idéias megalomaníacas que partilhamos em algum momento de nossas vidas.

Amanhã ela vai. Vai "cair no mundo", passagem só de ida para o total desconhecido. Vai com a cara e a coragem, em busca de um sei lá o que que ela com certeza vai encontrar. Vai na marra, guiada pela intuição e pela curiosidade absurda que habita cada mitocôndria de seu corpo. Vai de cabeça aberta, linda, livre, like the wind. Ela vai, e vai levar consigo os anseios de toda uma vida. Da minha vida. Vai levar meu coração no bolsinho da mochila. Ela vai, e vai deixar para trás mais uns trocentos destroçados pela ausência da sua companhia.



My big little sister, você não acendeu uma luz em minha vida. Você me mostrou onde era o interruptor (e até como se trocam as lâmpadas, rsrs). Vá! Vá preencher seu livro de aventuras!

Vá andar em girafas na Uganda! Compre uma linda burca no Cazaquistão, fique pelo menos um mês em um templo Tibetano, coma insetos Tailandeses. Passe o outono em Nova Iorque, o verão em Sydney, veja o sol nascer na Ilha de páscoa e ele não se por na Antártica! Salte de uma ponte na Nova Zelândia, recolha uma pedrinha das ruinas astecas, atire uma pedrinha no Mar Morto. Coma muita areia no egito, tome um chá com o Fidel, se entupa de comida indiana. Encha a cara de vodka ( e rum, e pisco, e tequila, e...) e aprenda a dançar cossaco (deve ser beemm difícil, kkk). Beije um pedreiro holandes (um não, uns quatro pelo menos), arranque suspiros de um canadense e deixe que liguem para seu pai oferecendo cabras (ou vacas, ovelhas, ouro, petróleo) pela sua mão. Apaixone-se por um ator italiano, tenha uma tórrida noite de amor com um mochileiro Norueguês, namore um sul africano que more em Praga e case-se com um japonês. Passe a lua-de-mel vendo golfinhos no chão de um bangalô em bora-bora. Separe-se e vá sofrer em Paris. Passe um tempo com uma tribo amazônica, passe frio no ushuaia, passe calor em Citzén-Itzá, passe um dia em Jerusalém. Vá, e só volte quando tiver feito todos os CHECK"S nos quadradinhos da sua alma. Vá amiga, AMUNDE-SE!!!

E, se a vida permitir, quem sabe eu me ajunto no final dessa jornada.

AMO-TE!

Una lagrima.



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A felicidade que bate em sua porta...

Então é isso! Um dia a gente olha para trás e se acaba de rir dos sentimentos absurdos que alimentamos durante décadas. Olha e percebe os comportamentos passados como um monster truck daqueles de alisar asfalto atropelando uma pobre formiga. Olha e duvida da eficácia literal da tempestade no copo d'agua. Coloca os óculos cor-de-rosa no melhor estilo Pollyana e sai saltitante por ai, vomitando arco-íris em qualquer um que cruzar o seu caminho.

Olha, percebe, duvida e entende que talvez fosse necessário ter passado por tudo aquilo para dar valor a esse sorrisinho estúpido em seu rosto. A tal "felicidade"...

Felicidade. E ponto. Sem nhemnhemnhem, blablablá, choradeiras, duvidas, angústias e consultas ao tarotonline. (ou a infinidade de oráculos disponíveis por ai, rsrs). Ela entra sem permissão, se instala e continua, "de mala e cuia", fazendo com que você ria das piadinhas mais estúpidas de sua timeline... ou se debulhe avassaladoramente em emocionantes comerciais de margarina...

Estou a tanto tempo sem escrever... não por falta de tempo ou coisa que o valha, mas por falta de inspiração... Depois que eu passei a dividir apê com a felicidade confesso que ficou difícil produzir um bom conteúdo... parece que as "Xminas" circulantes no meu corpo represaram a coitada da inspiração, ela foi morar com a imaginação e agora estão ambas ilhadas nas profundezas do meu córtex. Numa espécie de conselho consciente: você já é feliz, tem tudo o que precisa, vá curtir a plenitude e enterre as expectativas...

Eu já tinha ouvido falar da sensação de completude desse estado naturalmente prozacquiano. Duvidava abertamente dos que partilhavam da experiência, quase como se fosse impossível a existência de um estado que não produzisse uma rusguinha sequer. Mas ele existe. Ela existe. E estar em seus braços é mágico. E simples. E tranquilo. Como se sempre tivesse sido assim. Como era para sempre ter sido. Como eu quero que seja para sempre.





Sei que é utópico acreditar  que esse estado vai perdurar, até porque o tempo nos incita a desenvolver desejos que nem sempre são satisfeitos. Mas acredito que alcançar esse estágio "nirvanesco" ajuda a aceitar os vieses do passado. Hoje, enxergo de uma maneira muito mais lúcida que dispendi muita energia em coisas absolutamente supérfluas. Hoje, aceito meus quilinhos a mais, meus cabelos ralinhos, minhas imperfeições como um todo. E de uma maneira assustadora, até gosto delas. Hoje, vejo que sonhos são passiveis de serem realizados, como moeda de troca de seu empenho. Hoje, acredito na felicidade.

E hoje eu desejo, do todo o meu coração, que você seja absurdamente feliz!!!

:)


terça-feira, 15 de novembro de 2011

A mulher de quase 30

Ah, mulher de 30! A idade do sucesso! XD

Juro que se fosse físicamente possível eu condensaria palavras e as enfiaria goela abaixo de quem as pronuncia. Não pelo teor pejorativo, ou até mesmo auspicioso que a expressão acima evoca. Mais talvez pela "cruz" que somos obrigadas a carregar quando a conjunção desse numeral+adjetivo (neste caso praticamente um substantivo) começa a despontar no horizonte dessa vida...

Para começo de conversa, que atire a primeira pedra quem pode afirmar que a "mulher de 30 anos" é realmente uma "mulher". Aliás, acho que é de domínio público que a quantidade de anos vividos em nada interferem no nosso amadurecimento psico/emocional/social. E quem aí pode definir de maneira concisa e sensata o que é sucesso? Marido, carreira, filhos, dinheiro?

Sou de uma geração impossível de ser classificada pelas últimas letras do alfabeto. E nem é uma geração propriamente dita, é praticamente um "gueto". Nascemos em mil novessentos e oitenta e poucos, crescemos imitando as mulheres adolescentes ridículamente independentes X, mas por alguma razão misteriosa fomos incapazes de seguir seus passos. Na hora do approuch saimos da quadra, voltamos para a casa da mamãe e fomos jogar playstation com os amiguinhos mimados/revoltados Y, dando início àquela que pode ser considerada como a "adolescência mais longa da história da humanidade" compreendida entre os 11 e os 29 anos.

Mas agora já tenho quase 30. JÁ SOU UMA MULHER DE 30. Lembro que quando pequena olhava para uma mulher "adulta" e via: casa, marido, crianças e rugas. Família, trabalho, gordura e dívidas. Não tenho nenhuma lembrança risonha de uma mulher mais velha. Acho que por isso desenvolvi uma repulsa a todo o esteriótipo de vidinha margarina Doriana. Tive uma ótima educação voltada para encontrar o tal "sucesso" por meio da concretização dos meus objetivos profissionais. Mas o tempo passava, a vida vivia, e o tal do sucesso não vinha. Por alguns anos juro que cheguei a pensar que o sucesso estava escondido na mochila de alguma barba mal feita, e eu tinha a certeza que no momento que ela se ajoelhasse choveriam estrelinhas prateadas e o tal sucesso aconteceria (surprise!). Parece que está encravado em nossas entranhas que a donzela precisa de um príncipe para obter tal êxito. (ou, pelo menos, mostrar para o resto da plebe que ela teve sucesso, não é mais uma entre as fracassadas)

Fracassadas, rs. Fazendo um balanço geral, a maioria das mulheres do meu "gueto" (menos eu Iuhuuuu) ainda mora com os pais. Ainda estão esperando o principe coxinha vir buscá-las com seu reluzente Honda City. Só que esqueceram de avisá-las que eles também decidiram esticar a adolescência um pouquinho mais. Algumas até deram a "sorte' (?) de se casar. Sim, sorte, porque casamento para mulher é como um Ritual de passagem. Sabe aquelas tribos africanas que se estouram num bungee jump improvisado? Ou que usam uma luva cheia de formigas? Ou que arrancam os clitoris? Então, para a mulher o sim no vestido branco é como acenar ao mundo e dizer: "- Olá mundo, agora eu tenho um homem e uma cozinha só minha. Agora eu tenho sucesso". É casando que a menina se torna mulher.

E as que ficaram aqui do lado de fora, o que elas são? Elas que cresceram, estudaram, viajaram, se divertiram, se apaixonaram, sofreram, choraram... Elas que vão para o trabalho todos os dias imaginando quando finalmente ganharão mais dinheiro ou farão algo que realmente as façam feliz... Elas que tiveram que aprender a conviver com uma enxurrada de tecnologias desnecessariamente necessárias e desenvolver (e manter!) uma vida extra-corpórea diferente da qual já estava fadada... Elas que tem 550 amigos, passam as tardes de sábado estudando para a pós (ou para as aulas de voo \o/) e as manhãs de sexta reclamando do happy-hour da tarde do dia anterior (nosso corpo já não é mais o mesmo...). Elas que começam a perceber as marquinhas, e machinhas, e ruguinhas, e quilinhos ganhos do nada que não querem ir embora nunca mais... Elas que ainda tem tantos planos, que ano que vem juram que vão mesmo fazer o mochilão na Europa, elas que se empetecam horrores para talvez encontrar "ele" naquela balada, elas que dormem e acordam e dormem e acordam... O que elas são?

 ...

Meninas.

Meninas de 30

E  posso afirmar, do alto do meu pedestal de uma mulher de quase 30 que eu não passo de uma menina.


Uma menina de 30.


Feliz Aniversário para nós!!!




Meninas de 30, quarta, 23/11. Especialmente para vc Zizi.












segunda-feira, 7 de novembro de 2011

"A caixa dos segredos entalhados" e o "manual de como viver no amanhã"

Dias atrás retornei à casa de minha mãe para finalmente levar aqueles que seriam os últimos resquícios de minha passagem por aquele lar. Livros, papéis, fotos, brinquedos, encravados em uma estante de um porão que eu quase nunca visitei. Livros que eu nunca li. De todos os presentes que recebi, de todas as faculdades que frequentei, de todos os filmes que assisti. Fotos que "revelavam" um passado aparentemente feliz. Familia, conquistas, festinhas, viagens. Pessoas que foram, pessoas que chegaram, as que ainda estão por aqui e as que retornaram, muitas graças a existência desta "realidade virtual" que aparendi conviver. Sentada no chão, em meio àquele revirado de lembranças impressas, deparei-me com uma caixa.

"A Caixa". É engraçado que todo mundo possui um exemplar da bendita, mas ninguém fala a respeito. É o lugar mais secreto e profundo que uma pessoa possui fora do corpo. É ali que está guardado tudo o que já foi (ou será) importante em sua existência. Cartas de amores passados, tikets de viagens, guardanapos com corações, cartões de aniversário, mapas e itinerários, documentos vencidos, discursos para a cerimônia de entrega do oscar, sapatinhos de recém-nascidos, fotos e fotos e fotos... lembranças daquilo que aconteceu (ou queríamos que acontecesse) que, de alguma forma, pretendemos guardar para a posteridade. Como um troféu. Ou como um atalho...

Revirando a tal caixa encontrei um manuscrito, quase como um "plano de voo", elaborado exatamente há13 anos atrás. Colégio (o tal "ensino médio") concluído, jornalismo excluído (como assim você não vai fazer faculdade?Ah, Lila querida, por que diabos eu não te ouvi mesmo?), brilhante idéia de perseguir o sonho que me atormenta desde que eu me conheço por gente. Primeira aula de teatro: Elaborem um documento que contenha elementos de quem você é e o que você pretende para o futuro.

Futuro... palavra engraçada. O futuro aos 18 anos é uma página completamente em branco. Que eu redigi, com toda a fé e esperança que acompanha a idade. DRT aos 21, cinema aos 23, casada aos 25. Filhos? Só quando eu for velha, com 28 e olhe lá!!! Vida cronometrada, felicidade encomendada. Guardei a lição-de-casa e fui viver a vida que Deus me deu...

Hoje sou incapaz de precisar em que ponto o roteiro desandou. Ou mesmo os motivos que fizeram o certo não dar certo. Pensando bem, acho que ninguém nos prepara para o que realmente o futuro nos reserva. Acho que deveriam distribuir, ainda na mais tenra idade, um manual de "Como viver o amanhã". Manual que certamente deveria ser composto por capítulos como: "como não sucumbir as adversidades", "sabendo ouvir não", "aceitando a sociedade como ela é", "príncipes encantados não existem", "nada cai do céu", "você tem que trabalhar muito para conseguir o que deseja", "idéias malucas as vezes compensam","amigos são a família que lhe dará suporte na vida", "não tenha medo de arriscar", "o tempo passa muito rápido", "fazendo sua felicidade depender apenas de você" e, finalmente, mas não menos importante, "aconteça o que acontecer, nunca desista dos seus sonhos". Porque os sonhos sempre te perseguirão. E o sentimento de fracasso, acoplado à revolta de "não dar mais tempo", também.

Hoje eu penso no futuro de uma maneira presente. Não faço mais planos. E tento viver cada dia como se fosse o último. Aceitei que o amanhã é inalcançável, sempre dependerá do "hoje" para acontecer. Como qualquer pessoa, não teria dúvidas de encarar uma "máquina do tempo" para corrigir minha proa. Mas aceito e me orgulho de tudo o que conquistei. Por mais que estas conquistas nunca estivessem previstas no "plano de vôo"

A caixa agora possui outro endereço. Mas sei que os segredos ali contidos nunca sairão do meu coração.






Pensando como uma aviadora, talvez o vento de través derivou minha rota e no momento estou meio que desorientada. Talvez saiba o nível, a velocidade e até que estou rumo aos 3.0. Mas não faço idéia de que ponto estou nesta "carta da vida".

Mas isso é assunto para o próximo post...


"O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens..."
                
                                             (Renato russo)