quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Delineador

Ela espera o sinal fechar.

Mas nem precisava, visto que, naquele horário, o caminho não ia ficar livre tão rapidamente.

Desce o quebre-sol.
Abre a necessaire, cor-de-um dia quase quente...
E e começa o ritual, tão conhecido, tão repetido, tão estudado.
Depois do terceiro estágio, ela parece uma boneca.
Daquelas, de porcelana, como a que qualquer avó exibe orgulhosamente no aparador da sala...
Ela se olha.

O rubor dos farois de freio refletidos em sua pele, tão branca, tão alva, tão perfeita, provoca sensações de estranhamento.

Ela não se reconhece.
Ela gosta do que vê, mas sabe que aquela não é ela.
Pensa na imagem que viu minutos atrás.
Pensa na imagem que via anos atrás
Pensa na primeira imagem que viu.
Percebe que essas imagens não correspondem àquela, refletida no espelho.

Um rastro negro colore sua face.
O dorso de sua mão apenas espalha a lágrima cor-de-carvão.
Seu rosto agora é grisé.
E ela não se importa

Tanto faz
Ela nem conhece aquela pessoa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário