sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O que foi sem nunca ter sido...

Dias desses uma amiga compartilhou um email que me despertou uma vontade desumana (para não dizer sádica) de encaminhá-lo para o mundo. Nele, um cara X, que ela tinha conhecido em um encontro "às escuras" promovido por outra amiga em comum, explicava por A+B os motivos pelos quais havia deixado de telefonar para ela. Era um texto longo, muito bem escrito, com um "Q" de Sophie Calle. Enfim, um blábláblá homérico sobre o quanto ela é linda, inteligente e especial (heim?), e as forças que impediam que os dois fossem felizes para sempre (no caso do bonito aí, uma ex-namorada tiazinha famosete de segundo escalão).

Ela nem estava muito interessada nele. Btw, nos poucos dias que sairam, o cara já tinha um apelido difamatório sobre sua ausência de habilidades nas artes da diversão. Mas no momento que ela recebeu a carta, seu mundo desmoronou. Parece que uma paixão súbita e avassaladora arrebatou seus sentidos, fazendo com que, de repente, o comedor de brócolis se tornasse um príncipe. E ela, a mais desnutrida das rãs.

O fato me remeteu a uma matéria que lí recentemente sobre as razões fisiológicas e instintivas que delineiam as bases nosso comportamento afetivo.



"O cérebro estava acostumado com aquela recompensa [a pessoa amada], então faz você insistir mais e mais para tentar consegui-la de novo (...) O pânico de ver que não está dando certo pode acionar o sistema de estresse do organismo, que por sua vez estimula novamente a produção de dopamina - ironicamente, fazendo a pessoa se sentir ainda mais apaixonada."



Não sei se endosso a teoria acima, mas assumo que não consigo lidar bem a com rejeição. Ninguém consegue. Aliás, só levei um grande perdido na vida que me rendeu desejar a morte á passar por tudo aquilo de novo. E, ao meu ver, conforme o tempo passa, parece que temos que lidar com esse sentimento em uma intensidade quantitativa, qualitativa e infinitamente progressiva.

Um belo exemplo disso é outra parceira desse clã, que costuma se apaixonar perdidamente uma vez por semana. Cada pisada na rua é um telefone novo, uma vida nova. Bonita, inteligente, simpática e articulada, ela não mensura os efeitos colaterais da overdose de envolvimento a qual se submete.

Voluntariamente.

Sei que se elas pudessem escolher não agiriam assim. Mas a carência impelida de viver um relacionamento romântico parece ficar mais forte a cada volta completada pelo ponteiro do relógio. E não, não estou condenando ninguém, até porque as histórias dos meus relacionamentos poderiam muito bem fazer parte de um roteiro de stand up mexicano. Eu apenas preciso refletir se realmente precisamos sentir tanto, sonhar tanto, se envolver tanto, sem dicernir quem realmente é merecedor de tal afeição. Imaginar o dito cujo empurrando um carrinho de bebê toda vez que o celular toca. Fornecer esse número para qualquer um que lhe ministre um segundo a mais de atenção. E chorar copiosamente cada vez que o infeliz vai embora.



...



Eu sei. Não se envolver também não é bom. Fica o vazio.

Mas sobra ao menos a possibilidade de tentar preencher este espaço com coisas que realmente nos fazem feliz.

Que, no final das contas, é o que mais importa.



...

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